Criado por Sandra em sex, 23/02/2024 - 12:38
Pesquisadores da UFOP têm repercussão internacional com artigo sobre processos de reciclagem de sedimentos no manto terrestre
Luís A. R. Seixas, professor titular da Escola de Minas aposentado, e Hugo Moreira, ex-aluno da UFOP de graduação e mestrado, com a participação da Universidade Federal de Ouro Preto, elaboraram estudo sobre o papel de minerais extraídos de rochas brasileiras no entendimento acerca dos processos de reciclagem de sedimentos marinhos no interior da Terra que repercutiu na mídia internacional.
Confira um resumo do artigo:
“Análises de minerais no Acelerador de Partículas Europeu (Synchrotron) permitem afirmar que a atmosfera alterou a composição do manto terrestre há mais de 2 bilhões de anos atrás. Pesquisadores analisaram o estado de oxirredução de enxofre em minerais extraídos de rochas brasileiras.
Nosso planeta distingue-se dos demais planetas rochosos do sistema solar e da Lua por ser constituído pelas placas tectônicas em sua camada mais externa, chamada de litosfera. Através do movimento das placas tectônicas oceanos são criados e destruídos ao longo do tempo geológico, medido em milhões e bilhões de anos. A geração de placa oceânica se dá nas dorsais meso-oceânicas (p. ex. dorsal meso-atlântica) e o consumo (ou destruição) ocorre nas zonas de subducção, como por exemplo a zona de subducção abaixo da margem oeste da América do Sul, neste caso dando origem como consequência à extensa cadeia de vulcões da cordilheira dos Andes.
A teoria da tectônica de placas é relativamente jovem na história das ciências, com pouco mais de 50 anos desde que foi formulada. Os cientistas trabalham com afinco na tentativa de estabelecer desde quando na história da terra este mecanismo – criação e destruição de placas oceânicas – começou a operar. Estimativas variam desde 1 bilhão de anos atrás até cerca de 3 bilhões de anos atrás, lembrando-nos que nosso planeta tem uma idade de 4,5 bilhões de anos. Importante nesta questão é reconhecer que nas zonas de subducção os sedimentos do assoalho oceânico penetram em profundidade e interagem com a camada mais profunda da terra, o manto terrestre. Esta interação permite a reciclagem no interior profundo da terra de materiais submetidos às condições mais externas do planeta – a hidrosfera e a atmosfera. O resultado desta interação ressurge nos gases e lavas emitidos pelas cadeias de vulcões acima das zonas de subducção. Por sua vez, a presença de vida na terra tem relação direta com a composição química da sua atmosfera. Foi somente a partir do aumento dos níveis de oxigênio da atmosfera terrestre que as formas mais primitivas de vida e diferentes ecossistemas puderam se estabelecer.
Nesse sentido, o chamado Grande Evento de Oxidação (sigla GEO) – situado há 2,5 bilhão de anos atrás – marca esse ponto de inflexão na composição da atmosfera terrestre, com aumento significativo do nível de oxigênio. Ou seja, do mesmo modo que para a dinâmica das placas tectônicas pode-se dizer que para os níveis de oxigênio da atmosfera existe um antes e um depois do GEO. Após o GEO os sedimentos da superfície do planeta e dos oceanos tornaram-se mais oxidados, possibilitando ao surgimento de um grande número de novos minerais.
Novo estudo publicado na prestigiosa revista Nature Geoscience encontrou evidências de que as modificações da hidrosfera e atmosfera decorrentes do GEO afetaram a composição química do manto terrestre. Monitorando o estado de valência do elemento químico enxofre presente em minúsculos cristais do mineral apatita extraídos de rochas formadas imediatamente antes e depois do GEO, os autores afirmam que os sedimentos –relativamente mais oxidados – depositados no assoalho oceânico imediatamente após o GEO foram reciclados no manto terrestre em zonas de subducção formadas há 2,1 bilhão de anos atrás. A pesquisa reveste-se de certa mineiridade posto que as rochas e minerais investigados são provenientes do Cinturão Mineiro, bem próximos do município de Ouro Preto-MG."
Confira o texto completo do artigo no seguinte endereço: https://www.nature.com/articles/s41561-023-01258-4