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Submitted by Admin Propp on Mon, 27/07/2020 - 12:06
A candidata ao mestrado Lilia Pereira Soares, aluna do Programa de Pós Graduação em Educação pela Universidade Federal de Ouro Preto, financiado pela CAPES, CNPQ e FAPEMIG, defendeu sua dissertação, intitulada “EU QUERO EDUCAÇÃO QUE TENHA IMPORTÂNCIA NA NOSSA VIDA”: Trajetórias escolares e sentidos da escolarização para os jovens da EJA no município de Conselheiro Lafaiete-MG. Ao introduzir o tema central de sua pesquisa, Lilia aciona Rubens Lima Jardilino e Regina Magna Bonifácio de Araújo, autores que estudam o assunto EJA e o explicam da seguinte forma: “A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade da Educação Básica que atende estudantes específicos, que por diversos fatores não conseguiram concluir a Educação Básica nas idades recomendadas pelas legislações, e “têm sido crescentemente procurada por um público heterogêneo, cujo perfil vem mudando, a cada ano, em relação à idade, gênero, expectativas e comportamentos”. De acordo com Lilia, nos últimos anos, as salas de aula do EJA, estão sendo compostas principalmente por jovens alunos, com trajetórias sociais marcadas por dificuldades. A presença cada vez maior do público jovem tem inquietado pesquisadores. Segundo Lilia, o fenômeno se chama “Juvenilização da EJA”. “Um dos fatores que intensificou esse fenômeno foi à alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada pelo Parecer CNE/CEB nº. 11/2000, e Resolução nº. 3, de 15 de junho de 2010, que definiu o ingresso na EJA de pessoas com 15 anos para o Ensino Fundamental/Anos Iniciais, e de 18 anos para o Ensino Médio. Estudos observam que a meta é certificar a população, o que deixa de lado a importância de uma educação sólida e tão essencial para a aprendizagem de competências para o trabalho, o exercício da cidadania e a entrada no Ensino Superior. Essa nova configuração da EJA tem causado preocupações a educadores e pesquisadores, o que nos mobiliza na busca para compreender esse fenômeno e suas causas”, acrescenta a pesquisadora. Os jovens que procuram o EJA, são, segundo pesquisas, pessoas que tiveram um percurso escolar fragilizado. Todavia, o fator principal evidenciado em estudos para justificar as idas e vindas escolares desses jovens é a gravidez precoce. Baseado nisso, o objeto de estudo da autora foi a migração de jovens de Conselheiro Lafaiete - MG, que a partir dos 15 anos, mudaram do ensino regular para a modalidade EJA. O objetivo foi identificar as implicações no percurso escolar regular que fizeram com que os jovens procurassem o EJA para concluir a escolarização. A metodologia usada recorre a abordagem qualitativa e quantitativa; os instrumentos usados para a coleta de dados foram aplicações de questionários e entrevistas semiestruturadas. Segundo o CENSO ESCOLAR 2019, os dados mais relevantes apontados para tal fenômeno, referem-se a o alto índice de reprovações, abandonos e defasagens idade-série na Educação Básica nas escolas públicas do Brasil. “A defasagem idade-série somada a altas taxas de abandono escolar explica o não alcance das taxas de conclusão na idade adequada do Ensino Fundamental e Médio. Os resultados das estatísticas na EJA revelam que há um contingente expressivo de jovens nessa modalidade e sugere que os alunos com retenção, reprovações ou que estão em defasagem idade-série estão procurando a EJA para a conclusão da Educação Básica.” explica LIlia. Em Conselheiro Lafaiete, a situação se assemelha ao que foi apontado pelo CENSO ESCOLAR. Com os dados escolares de 2018 em mãos, a pesquisadora fez um comparativo entre os números das matrículas em 2018 com o número de reprovações e abandono do ano seguinte. Os números a seguir foram resultantes da comparação: Em 2018, para 2.338 alunos matriculados no Ensino Fundamental/Anos Iniciais, 257 foram reprovados e 31 abandonaram a escola. Para 3.780 matrículas no Ensino Fundamental/Anos Finais, 1.096 alunos foram reprovados e 157 abandonaram a escola. Para 3.300 matrículas no Ensino Médio, 391 alunos foram reprovados e 269 abandonaram os estudos. “O fator da gravidez precoce e a necessidade de trabalhar entre os adolescentes, não foram constatados nesta pesquisa como motivo para estarem na EJA, ou para abandonar os estudos, como foi em várias outras pesquisas em diversas regiões no país com relação a esse tema. No grupo dos mais jovens que somam 51 alunos entre as idades de 15 a 17 anos, apenas um aluno (homem) tem filho (1 filho), apenas uma é casada, e 50 moram com os pais”, acrescenta. Para os jovens de Conselheiro Lafaiete, os principais motivos que fizeram com que optassem pelo EJA, são, entre os mais velhos, a necessidade de concluir a educação básica para conseguirem empregos, e para os mais jovens, concluir a educação básica de forma mais rápida. No estudo fica claro que o que leva os jovens de Conselheiro Lafaiete a optarem pelo EJA é a defasagem idade-série ocasionada por sucessivas reprovações e dificuldades de aprendizagem que também levam as essas retenções. “Consideramos o cenário alarmante, pois, temos o compromisso de fazer com que todas as crianças e jovens em idade escolar estejam estudando, para garantir o direito constitucional à educação, porém, no meio do caminho, nossas crianças e adolescentes vão sendo deixados para trás. Não há como negar que o sistema escolar, as políticas educacionais e sociais estão alcançando pouco seus objetivos”. Conclui Lilia Pereira.